quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Trabalho de filosofia

Um título

O nome do livro pressupõe-se que seria o tema abordado, no enredo do mesmo, porém é um assunto que não existe e nem nunca foi explicado. Também não de pode abordá-lo em um único parâmetro.
O tema em si não existe e tem que ser inventado.
Para se escrever sobre a “razão”, ela tem que ser desenvolvida primeiro, surgindo então duas hipóteses: o livro não pode ser escrito ou será uma tentativa de inventar a razão, mas tudo isso deve ser ignorado.
Talvez a razão tupiniquim seja uma piada, baseando-se em todo o “jeitinho brasileiro” de levar como piada, rimos do governo, das instituições, e temos o pensamento ágil em criar frases cômicas e criativas.
Quando pensamos, pensamos de maneira séria sem piadas, frases elaboradas com palavras difíceis ou citações em latim – sendo impossível fazer piada em latim.
Acredita-se que a piada brasileira deveria ser estudada, pois possuirá características específicas? Que atitudes básicas revelam? Uma maneira sutil de enfrentar os momentos humilhantes? Modo de estar acima da humilhação? Sim. Cada um age e/ou tem uma reação, os brasileiros recorrem ao riso e o humor.
O riso é uma coisa muito brasileira, ele ajuda em diversas situações, nos salva, tiraniza o tirano, amesquinha quem nos tortura, exorciza nossas angústias.
O autor não crê na existência de outro ponto de vista, sendo que as circunstâncias só podem ser vistas por este único lado, pois se houvesse outro, não seria de deveras importância. Porém há um perigo, sempre há, a mesma piada que salva pode mascarar-se em alienação, o que significa que pode-se tornar alheia ou que pode se tornar algo perturbador .
Como em qualquer criação humana a piada deve ser crítica, por ser também uma forma de conhecimento.
Quando não se acha graça, seja por distração ou por outro motivo, a crítica se perde. E o jeito “piadístico” estará a serviço de nossa falta de autenticidade.
Sendo assim não se pode mudar, deixa assim pra ver no que vai dar.
O brasileiro é conformado, não mudando a sua imagem de “jeitinho brasileiro” ou “o brasileiro é assim mesmo”, sua forma de justificar os erros, política, jogos, retrata bem esta característica de conformado, o que impede um olhar mais crítico ou até mesmo, uma melhor postura nossa.
Sem saber da razão tupiniquim, o brasileiro de ilude de duas formas: rindo da sua sem-importância ou sonhando por um país melhor.
“Deixa como estar para ver como é que fica, dá-se um jeito”, mostra o conformismo e a ausência do poder crítico, mais também mostra uma esperança.
O brasileiro foge de sua identidade.
Na filosofia, o espírito humano busca a sua auto-revelação, porém o brasileiro ainda não produziu filosofia, pois é autocomplacente e conformista, logo não se tem como exemplos de arquivos de filosofia brasileira.
Não se encontra nenhuma atitude “pensante” sobre o brasileiro, não se tem nada a respeito de pensamento brasileiro entre os filósofos oficiais.
Obras de diversos autores e ciências humanas dos últimos anos nos têm mais o que dizer do que teses universitárias de filosofia.
Propor que a razão tupiniquim seja mais que: pensar o que se é, como se é.

A sério: a seriedade

“Aliás muito difícil nesta prosa saber onde termina a blague onde principia a seriedade. Nem eu sei”
Mário de Andrade

Seria um tema sério? Ou uma piada?
Na verdade o título quer dizer que deve-se levar o texto a com seriedade.
As palavras “sério” e “seriedade” têm diversas interpretações, a exemplo de: “Fulano de Tal é um homem sério” e “Fulano de Tal leva a sério seu trabalho”, nas duas frases se percebe uma mudança de perspectiva. No primeiro exemplo o Fulano de Tal é uma pessoa preocupada com as aparências, que diz respeito a ser sério, respeitador, legal (perante as regras ou normas), correto, não se espera atitudes  inesperadas, em outras palavras Fulano de Tal é respeitador e respeitável. No segundo exemplo mostra-se outro significado de seriedade, “levar a sério” não consiste no zelo pela vigência de normas sociais. Se “levo a sério”, isso é algo que sai de mim em direção ao objeto da seriedade, se sou sério, me confirmo como objeto de seriedade.
Ou eu sou um objeto da seriedade ou caminho para tal.
Dinâmico = a sério, diferente do caráter de coisa acabada e estéril da seriedade do sujeito.
“A sério” possui diversos significados.
“Sério” se reduz a um objeto morto, caricato, de existir centrado no externo.
“A sério” mostra o interesse em algo, sem medir esforços ou sair da linha, daí vem a criatividade.
Um exemplo é o artista, que não é um homem sério, por causa de seus valores não convencionais e modo de vida diferente.
O artista e o filosofo tem em comum a loucura, sua vocação, logo a loucura não é exemplo de seriedade, porém o trabalho de um artista sempre é levado muito a sério.
Atividade desinteressante em oposição a seriedade daquilo que vale hoje. Buscamos então no artista liberdade e vulgaridade.
O artista se utiliza de um conjunto de valores que se chocam com os que são válidos hoje, ao contrario que se pensa, que seria uma atividade por lucro ou dominação.
No homem sério podemos dizer que sua principal característica é o interesse. Ele também é organizado, ambicioso, visa lucro e poder.
Curioso notar que o homem sério é distante dos valores tradicionais, no entanto o artista que concretiza esses valores acaba recebendo o rótulo de louco, recebendo a agressividade ambivalente do homem sério.
Nota-se duas coisas que o homem sério faz assim que chega ao poder é: instaurar a censura e construir museus e teatros, o que prejudica o artista, pois censurá-lo impede sua liberdade de expressão e os museus e teatros o transforma em ornamento social. Assim o homem sério elimina o que teme.
É obvio que o sério está a serviço de uma mascara social, algo externo que nos comanda, que nos dita o que convém, esta a essência de tal seriedade, logo pouco importa o que vem do interior, sendo eliminada a expressão pessoal e critica.
Há coisas na filosofia que podem ser úteis, consagradas pelo uso acadêmico, de bom tom e alta ilustração, coisas que são discutidas em Sorbonne, em Oxford, publicadas em Paris ou Berlim, apresentadas em congressos. Dessa forma constituem-se seus próprios temas e maneiras de tratá-los de forma que os convém.
O triunfo do homem sério é alcançado quando se chega à completa ritualização. Não importa mais o dito, mas sim a maneira de dizer dentro dos padrões.
Sendo assim por mais vazia ou tola que seja a comunicação a um congresso esta cumprindo, o ritual da cultura é preservado. Aqui então nota-se as coisas convenientes, perfeitamente sérias.
Com tudo isso o que se quer dizer é que o título exigirá sair do sério.
Parece claro que a filosofia brasileira só existirá a partir do momento que vier a ser como piada, uma investigação do contrario da seriedade que vale hoje.
Obras sérias são feitas com arquivos, notas e num jargão aborrecedor, e isso que atrapalha o pensamento brasileiro. A ritualização do sério é exatamente isso, uso de temas apropriados, pouco importa se realmente importam, se utiliza de especulações sem fatos ou origens comprovados que nos rodeia.
Logo, perde-se a ligação e a referencia critica à realidade, que sempre foi o requisito básico da filosofia.
Uma citação de Nelson Rodrigues diz: “...o mais grave defeito dos personagens de romance brasileiro é serem incapazes de cobrar escanteio”, o que nos mostra que inteligência brasileira não falta, só não é em si valorizada.
Perdeu-se então o contato com a realidade em torno.
Observando a rotina do brasileiro notamos que o mesmo tem horror ao que é formal, luxuoso. Característica básica do brasileiro é desestruturar, dissolver qualquer forma de grandeza, para que assim não aja qualquer forma de correção. Já as expressões da língua revelam isso. Se comparado com o francês ou alemão o português é muito distinto. O ceticismo natural do brasileiro e sua forma distorcida de olhar não combina com as formas de outras línguas. Diz-se que qualquer personagem mundial que venha para o Brasil, em dois dias já não seria mais levado a sério. Mas em contra partida é no Brasil que se foi formulado um falar, escrever e pensar tão rígido e formalizado.
O essencial também variado é uma característica, uso de palavras desconhecidas, frases complexas ou assuntos com contextos distantes da realidade. O intelectual brasileiro que discursa, triunfa o sério e nele triunfa a “Razão Ornamental”.
Uma característica curiosa é o uso do terno e gravata, já que o brasileiro tem fobia de coisas formais e o clima no Brasil é quente, quando se trata de assuntos culturais logo o terno aparece em um brasileiro sério. O uso do termo seria como uma fuga, como se fosse um disfarce talvez para fugir das preocupações e parar e analisar o que no momento é de deveras importância ou que é realmente sério, mesmo que não seja uma roupa habitual do brasileiro, logo não se pode esperar muito, um discurso talvez, importante? Já não se pode ter tanta certeza. O traje é imposto pelo o que é vigente.
Assim o filosofo brasileiro tem o poder de discutir, pensar e “viajar” nos mais distantes e variados temas, mas se esconde em baixo de ternos e gravatas, logo não tendo perspectiva nenhuma de avanço na filosofia. O que deixa a duvida: pode debaixo de terno e gravata a filosofia pensa?
Mostra-se então o triunfo a cultura formalística, o contrario da aversão ao luxo.
Assim que decair o sério, o humor seria visto como forma de conhecimento, e nossa atitude de ver as coisas ao avesso seria então uma atitude profunda, enfim conseguiríamos pensar por conta própria. E então a perspectiva perdida seria encontrada na forma de filosofia.
Logo fica clara a nossa falsa intelectualidade, quando então levantamos diversas duvidas a respeito do país, da cultura, das crenças, da política, das atitudes, das virtudes.
Quando se questiona o país: se é o país do futebol, por que nossos personagens de romance não sabem cobrar um escanteio? Será então que o Brasil é mais o país das praias, das cerveja gelada, do carnaval, do papo com os amigos, do funcionário público, dos heróis sem caráter, do jogo do bicho e loteria esportiva? Qual a Razão oculta nisso tudo? O que significa tudo isso?
Não sabemos, estes temas não conseguiram status de assunto sério, pois o intelectual brasileiro só leva “a sério” o que é “sério”.
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Post longo e diferente ;)
Não fiz correções, esse texto foi usado em um debate sobre o livro Crítica da razão Tupiniquim, no ultimo ano da faculdade, cada grupo falaria de "x" capítulos.
Quando fiz faxina no meu fichário para fazer os cursos do post anterior, achei esse trabalho e queria muito postar XD
Se faz sentido ou não, eu não me importo, sendo filosófico ou não, foi o trabalho de filosofia que mais gostei de fazer.
Beijos ;)

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